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Mario Lúcio de Freitas: As duas facetas do mercado de tradução, ou a falácia da regulamentação

Mario Lúcio de Freitas, tradutor
Mario Lúcio de Freitas, tradutor

Mario Lúcio de Freitas


- Tradutor com 32 anos de carreira, experiência anterior como gerente administrativo e de operações em multinacionais e projetos de engenharia.

- Formado em Ciências Contábeis pela UnB em 1990 e como Técnico Tradutor e Intérprete En-Pt-En pela Escola Americana de Brasília em 1986.

- Especializado em tradução nas áreas de engenharia, jurídica/contratos e financeira.







corrida de ratos...

Eu sempre bato nessa tecla, de que existem dois mercados distintos de tradução: um composto de pessoas que lutam para entrar para o mercado, aceitam tarifas mais baixas, pós-edição de MT, plataformas on-line do tipo “corrida de ratos”, etc.


Não há nada de errado nisso e todos nós passamos por isso um dia para chegarmos aonde estamos hoje. Portanto, não há o que criticar.




veteranos

O outro mercado é o dos veteranos, que não aceitam qualquer condição para trabalhar, têm uma carteira de clientes formada e um volume de trabalho suficiente para filtrar seus clientes e os trabalhos oferecidos.


Ambos sempre existiram e sempre hão de existir. Lutar contra isso é absoluta perda de tempo. Cabe a todos nós aprender a conviver e sobreviver no nicho do mercado em que atuamos, o que é possível em ambos os casos. A diferença é que quem está no primeiro grupo deve lutar arduamente para sair dele e passar para o outro assim que possível.


Pois bem, a dificuldade dessa mobilidade de A para B e a carência das pessoas do primeiro grupo de conseguir trabalho e renda suficientes em seu nicho para passar para o outro é o que dá ensejo a uma das maiores e piores falácias do nosso mercado: a suposta “regulamentação da profissão”.


Trata-se de uma reivindicação desesperada das pessoas que ainda não se estabeleceram de tirar do mercado metade dos profissionais que já têm uma posição consagrada, para terem mais oportunidades. Ou seja, vamos puxar para baixo e derrubar lá de cima quem conseguiu chegar ao topo para nós conseguirmos escalar o monte.


não funciona!

Uma visão extremamente egoísta e uma clara tentativa de criar uma “panelinha” exclusiva para quem se formou na área de tradução, que representa apenas metade dos profissionais e certamente não representa a metade mais qualificada e bem-sucedida.


Ou seja, vamos puxar para baixo e derrubar lá de cima quem conseguiu chegar ao topo para nós conseguirmos escalar o monte.

E por que é um tiro no próprio pé?


Porque a única e exclusiva diferença que faria tal regulamentação é que os formados na área, já bastante prejudicados no mercado, seriam obrigados a pagar uma anuidade a um conselho, uma despesa a mais, sem que isso aumente 1% sequer da sua carga de trabalho, que é a ilusão que esse grupo vive. No mercado internacional, onde está o grosso do trabalho e os serviços com remuneração decente, a tal regulamentação sequer seria percebida. É raríssimo um cliente que exige formação em tradução ou qualquer tipo de certificação para selecionar seus tradutores.


Em 32 anos de profissão, eu conto nos dedos (de uma mão) quantos clientes eu perdi por não ter um diploma ou certificado na área. A clientela do nosso mercado já aprendeu que cursos de tradução e certificações certamente não estão entre os critérios que qualificam os melhores tradutores, nem chega perto.


A regulamentação da profissão dificilmente acontecerá. Se acontecer, será por interesse de um grupo que quer enriquecer instituindo um Conselho Regional de Tradução, mas não fará a mínima diferença no nosso mercado, não abrirá mais oportunidades aos formados na área e não vai solucionar o problema da concorrência formando a tão sonhada panelinha e excluindo vários pais de família do mercado ou jogando-os no limbo profissional, como desejam os iludidos com essa falácia.


Chega desse assunto, não é?

Portanto, já passou da hora de esse assunto de regulamentação de profissão ser enterrado de vez. Quem ainda insiste nisso invariavelmente passa vergonha, demonstrando, além da falta de competência e do egoísmo, a total falta de conhecimento do próprio mercado em que atua.

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