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Entrevista com Ana Julia Perrotti-Garcia, tradutora/intérprete - Behind The Curtains


Ana Julia Perrotti-Garcia, tradutora/intérprete
Ana Julia Perrotti-Garcia, tradutora/intérprete

Ana Julia Perrotti-Garcia


Áudio-descrição - Tradutora - Intérprete 

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Fale um pouco sobre o seu background antes de se tornar tradutor (formação e experiências prévias de trabalho).

Minha carreira foi se transformando aos poucos. Sempre dei aulas de inglês em escolas de inglês. Fiz Odontologia e especialização em Cirurgia Bucomaxilofacil, chegando a atuar durante um tempo na área, dar plantões em traumatologia, fazer cirurgias e até mesmo atuar como assistente em centros cirúrgicos hospitalares.


Também tive consultório por alguns anos. Quando percebi que era mais feliz transformando pacientes em alunos de inglês (mesmo recebendo bem menos do que no tratamento), entendi que era a hora de ficar somente com as aulas.


Na época, eram raros os cursos de inglês para finalidades específicas, e mais raros ainda os cursos para a área da saúde. Então, junto com uma colega, criamos um Curso de Inglês Odontológico (o primeiro do país e talvez do mundo). Depois ela seguiu outros rumos e eu continuei dando aulas nesse curso. Então, uma editora (Santos) quis publicar o curso, e um dicionário que eu tinha criado.



O que te fez se tornar uma tradutora?

Pelo sucesso do dicionário e do curso, a editora começou a me mandar traduções para eu fazer a revisão técnica e, depois, me convidaram a fazer as traduções para eles.


Cheguei a traduzir, na época, mais de 20 livros completos. Foi quando percebi que teria de buscar uma formação acadêmica na área, se quisesse continuar a evoluir profissionalmente.


Então, fui fazer Faculdade de Letras, com ênfase em Tradução. Aí, o bichinho me picou, e não parei mais: fiz especialização, mestrado e doutorado na área.



Como esse background lhe ajudou em tradução?

Ter atuado na Odonto me ajuda muito, pois meus textos fluem melhor, são mais genuínos, pois já fiz muitos dos procedimentos que eu traduzo.


Mas, como sempre digo, há outras maneiras de se produzir textos bem traduzidos e naturais. Fazer faculdade e atuar na área é uma delas. Você também pode fazer pesquisas, ler bastante, ir a eventos da área, conversar com especialistas, assistir a vídeos que mostrem profissionais da área atuando (só não vale dizer que aprendeu Medicina no House ou no Grey’s Anatomy, tá? -Aliás, é bem legal saber a diferença entre este último e o Gray’s Anatomy – se não souber, sugiro pesquisar!)


Qual sua avaliação pessoal da área?

Sempre vai haver os que dizem que a profissão vai acabar, que a tradução automática vai nos superar.

Vejamos um exemplo de outra área, para ficar mais claro: os programas leitores de tela estão cada vez mais precisos, e já são melhores que muitos(as) locutores(as). Mas isso não significa a extinção de todos os profissionais da área de locução, concorda?


A Tradução é um ofício cognitivo e mecânico. A parte mecânica até deve ser automatizada. A cognitiva jamais será feita 100% por máquinas. E serão necessários linguistas para alimentar, refinar e testar essas máquinas. E há os textos sensíveis (cômicos, poéticos, irônicos, religiosos, culturais) que sempre precisarão do bom senso e do conhecimento de mundo dos tradutores humanos


Por outro lado, eu acho que já tem muita gente que foi superada pela tradução automática faz tempo, kkk. Basta não se atualizar, não refletir, não aprender com os erros, e logo o computador fará um trabalho melhor que o seu.



Qual o nível de satisfação que trabalhar em tradução lhe traz?

O que o cliente quer um texto bem traduzido, entregue no prazo e com um preço que ele considere adequado. Ele não quer saber sua idade, seu gênero, sua orientação sexual, sua religião e nem mesmo se você realmente existe ou se é um holograma (risos). Ou seja, uma situação muito próxima do “mundo ideal”. Portanto, como não estar satisfeita com uma profissão assim?


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