Eliane Gurjão Silveira, tradutora com 19 anos de carreira, experiência anterior na área de tecnologia e análise de sistemas.
Formada em Tecnologia pela Universidade Mackenzie e em Letras – Tradutor e Intérprete pela Unibero, com mestrado pela PUCSP.
Atua no mercado de tradução técnica e literária.
LinkedIn: www.linkedin.com/in/eliane-gurjão-silveira
Proz: https://www.proz.com/profile/2479357
E-mail: egurjaosilveira@gmail.com
Fale um pouco sobre o seu background antes de se tornar tradutor (formação e experiências prévias de trabalho).
Antes de me tornar tradutora, eu trabalhava em análise de sistemas. Formei-me em meados da década de 1980, meio sem saber o que me esperava.
Naquela época ainda não havia esse forte conceito de construção de carreira. Alguns pendiam para áreas mais tradicionais, que já tinham uma carreira delineada, como medicina, engenharia e direito. No caso da área de informática, ainda engatinhando no Brasil, não tínhamos o que se tem hoje em termos de carreira. E o profissional de computação fazia de um tudo (tudo mesmo!), não havia essas especializações que existem atualmente. Você se formava e já poderia trabalhar como programador, analista, fazer testes, desenhar processos, tudo o que se relacionasse com a tarefa que estivesse realizando no momento.
Enfim, trabalhei em indústria metalúrgica, comércio de gás, automação bancária, automação comercial e telecom. Sempre atuando em sistemas. Fiquei quase 20 anos na área, até que em 2005 abandonei de vez e abracei a área de tradução.
O que te fez se tornar uma tradutora?
Em 1995, eu estava passando por uma crise, andava querendo mudar um pouco minha vida. Sempre tive um espírito irrequieto e não estava contente com a vida que levava, que era só trabalhar e voltar para casa.
Um belo dia, subindo de ônibus a Brigadeiro Luís Antônio, vi uma faixa em frente à finada Ibero-Americana que falava do vestibular. E me perguntei: por que não? Sempre lia livros em português e inglês, mas como seria fazer parte do processo? Como seria esse trabalho? Precisava mesmo de faculdade? Sem piscar e nem perguntar a ninguém, porque se a gente pergunta sempre aparece um obstáculo, fiz minha inscrição e só avisei em casa na hora do exame. Alguns dias depois, veio o resultado e vi que não só tinha passado como minha colocação na lista de aprovados era muito boa. E assim foi.
Formei-me em 1998, mas ainda continuava na minha antiga profissão, que me dava boa remuneração. Mas o mercado foi mudando, a competitividade corporativa foi aumentando e eu fiquei cansada. Em 2005, demitida da empresa onde trabalhava, resolvi mudar de vida de vez e abraçar a tradução. Não foi fácil, confesso, mas esse empurrãozinho ajudou a me decidir. Fiz mestrado, trabalhei como gerente de projetos de tradução e finalmente me firmei como freelance.
Como esse background lhe ajudou em tradução?
Acho que essa minha sede por mudança sempre fez com que eu não parasse de aprender coisas novas.
Esse meu passado em informática proporcionou um sucesso enorme ao lidar com a parte tecnológica da tradução. Não é fácil para um tradutor sem essa vivência visualizar todo o panorama. Como gerente de projetos, essa minha experiência foi primordial, porque trabalhei em um escritório pequeno em que eu fazia de tudo, desde receber o material na entrada, organizar e controlar cronograma, preparar o material, selecionar os tradutores, distribuir o material, passa-lo à revisão e despachá-lo de volta para o cliente, entre as muitas coisas que acontecem entre a entrada e a saída. Para uma pessoa que desconhece conceitos de tecnologia, isso poderia ser um pesadelo. Quando decidi passar a freelance, já estava preparada para essa aventura. E eu aprendi que, para a prática, a preparação é tudo.
Qual sua avaliação pessoal da área?
Na minha opinião, a tradução, seja ela técnica, literária ou jurídica, tem muito a oferecer. O que tenho visto aqui no meu “pequeno mundo” é um cenário que requer muito cuidado e discernimento. Na minha visão, essa evolução tecnológica serviu para o cliente achar que está tudo mais fácil e para o tradutor trabalhar com muito mais dificuldade e com rates apertados. Recebo trabalhos nas mais diferentes CAT tools e sempre me pergunto: para que tantas? Essa guerra econômica nos atinge em cheio.
Para economizar, o cliente seleciona a ferramenta com melhor “custo-benefício”, e recebemos materiais com preparação péssima, ferramentas que funcionam mal ou que dobram o trabalho, que não oferecem segurança tecnológica ou linguística. E não existe apoio para isso, nenhuma instituição que regulamente as funcionalidades mínimas oferecidas pela ferramenta. Não vou me demorar nesse assunto, porque a discussão é longa demais e não há espaço para isso. Talvez em outra oportunidade.
A competitividade cresce a cada ano, vemos tradutores sendo preparados nas universidades, uma preocupação acadêmica muito grande. Com isso, cresce a competitividade e esperamos que as oportunidades também cresçam na mesma medida.
Hoje, já estabelecida, só desejo ver mais melhorias e apoio. Claro que uma área com melhor estrutura também proporcionaria melhores remunerações. Esse seria um cenário excelente.
Qual o nível de satisfação que trabalhar em tradução lhe traz?
Meu trabalho me preenche e me satisfaz muitíssimo. Esses pequenos textos são meus filhinhos indo para o mundo e levando a informação para os leitores. Não importa se é o manual de um micro-ondas ou se é a descrição de um processo industrial, sinto o mesmo carinho por cada trabalho. Acho que a definição de satisfação é acordar todos os dias com vontade de ligar o computador e fazer o seu melhor.
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