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Dicas para traduzir documentação para a imigração dos EUA

Aqui estão algumas orientações sobre como traduzir conteúdo para a imigração dos Estados Unidos. O principal destaque é a IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO, em transmitir as informações do seu caso de maneira concisa e que esteja alinhada com a cultura americana.




Dica n° 1: tente formar uma imagem mental do oficial da imigração.


Ao considerar essa pessoa, imagine-a como alguém QUE NÃO É BRASILEIRO.


Tente compreender o que significa não ser brasileiro. Os Estados Unidos não são simplesmente um Brasil mais rico. A mentalidade é distinta, as pessoas pensam de forma diversa e têm perspectivas diferentes do mundo. É com indivíduos desse tipo que você precisará se comunicar e transmitir sua mensagem. Portanto, livre-se de preconceitos provenientes de Hollywood ou de grupos brasileiros que disseminam desinformação, e esforce-se para compreender a forma como os americanos pensam – você terá que interagir com eles conforme o processo deles.


Essa pessoa não tem conhecimento sobre o Carnaval. Provavelmente não consome coxinha ou pão de queijo e não está familiarizada com o Rio de Janeiro. O feijão que ela come é adoçado – algo que chocou os membros da FEB quando vieram se preparar aqui para a Segunda Guerra Mundial. Seus filhos frequentam escolas públicas, vão e voltam em ônibus escolares amarelos, fazem arrecadação de fundos na 8ª série para custear uma viagem a Washington D.C., participam de eventos de boas-vindas no início do ano letivo, muitos deles são escoteiros. Todos participam de bailes escolares e festas de outras séries. Muitos fazem churrasco nos fins de semana, utilizando molho barbecue, cujas receitas têm origem nos grupos de escravos libertos e seus encontros pós-culto nas igrejas.


O oficial de imigração é uma pessoa instruída (com pelo menos uma graduação, sendo que muitos possuem mestrado e JD), de orientação conservadora (é um servidor público, e mesmo aqui eles tendem a ser mais avessos ao risco) e tem aproximadamente 1 hora para avaliar o seu caso. APENAS 1 HORA. Portanto, sua comunicação deve ser persuasiva o suficiente para convencer o oficial em APENAS 1 HORA.


E lembre-se, tradução é comunicação. Sempre defendi isso. Meu pai, um tradutor profissional desde os anos 70, repetia isso até falecer no ano passado. Tradução não se limita à língua, é sobre comunicação.


Por isso, meu principal conselho é NÃO CAUSAR IMPRESSÃO NEGATIVA NO OFICIAL DE IMIGRAÇÃO. Evite fazê-lo perder tempo com um texto em português brasileiro escrito em inglês. Não envie um "The book is on the table" para ele. Envie algo que demonstre sua seriedade, seu comprometimento com seu projeto proposto e que respeite o tempo que ele dedicará ao seu processo.


 

Dica n° 2: pesquise os seus cursos (bacharelado e pós) nas universidades americanas e tente achar equivalentes PESQUISANDO AS EMENTAS DOS CURSOS.


De novo, como já falei acima: não interessa o nome que damos no Brasil para um curso. O que interessa é como ele é chamado nas universidades americanas. E os nomes não são gratuitos, tirados do chapéu. Não basta traduzir palavra a palavra, tem que ser um nome de curso, de matéria, que tenha um equivalente ou algo similar nos EUA. E as ementas têm que bater, pelo menos na bibliografia.


Como já falei antes, tradução não é trocar as palavras: é comunicar a mesma mensagem para uma pessoa em outra cultura, de forma que essa outra pessoa ENTENDA A MENSAGEM.


 

Dica n° 3: existem affidavits e certificações de tradutor aos montes na internet.


A regra geral é que nela tem que constar nome completo, documento de identidade e forma de contato do tradutor. Se for um tradutor profissional, colocar suas afiliações a associações conhecidas da área (como a ATA, SINTRA, ABRATES, ITI, e por aí vai). No texto da certificação deve constar que o tradutor, cujo nome E ASSINATURA estão abaixo, assegura que o texto traduzido é fiel ao original, sem adição nem omissão do texto.


Não existe uma ordem escrita em pedra para a sequência dos documentos. Eu prefiro a seguinte ordem:

  1. Tradução (a 1ª coisa que o oficial verá).

  2. Certificado do tradutor, dizendo que as X páginas anteriores são a tradução do documento YYYYY nas X páginas a seguir.

  3. Original


Tem tradutor que coloca o certificado logo na frente. Conheço alguns que colocam no final.


Alguns tradutores fornecem um único certificado para todas as traduções. Eu forneço um por documento. Minha rationale é que o meu cliente poderá querer usar a tradução de um documento em um outro processo, mas não a de outro que consta no mesmo certificado, e com um certificado único isso fica inviável.


 

Dica n° 4: tradução certificada não é tradução juramentada.


Tradução juramentada é um dispositivo que é válido em solo brasileiro e alguns outros casos específicos no exterior. No caso da documentação para o USCIS, seja ela qual for, a juramentação não é reconhecida no exterior. A juramentação é a fé pública que o tradutor juramentado deposita na tradução feita por ele. O tradutor juramentado recebe esse poder (de dar fé pública às suas traduções de documentos) após ser aprovado por concurso público e receber a concessão do Poder Público (ele não é funcionário público, ele recebe a concessão para dar fé pública a documentos), e essa pessoa só pode morar em solo brasileiro por lei. Se ele morar no exterior, terá que deixar de ser juramentado enquanto morar no exterior.


Para a imigração dos EUA, documentos juramentados são documentos certificados, pois na juramentação o tradutor juramentado declara tudo o que eu descrevi na Dica n° 3. Só que você, ao contratar a juramentação, paga também pelo registro da tradução (sim, a tradução inteira, folha por folha) na Junta Comercial do estado a que o tradutor juramentado é vinculado.


 

Dica n° 5: se você não tem certeza de que conseguirá se expressar em inglês de forma que sua mensagem seja comunicada de forma eficiente e completa, contrate um tradutor profissional.


Contrate um tradutor que mexa com comunicação. Que saiba falar com públicos distintos, que saiba passar a sua mensagem. Não confie em quem só “sabe inglês” ou “passou uns tempos nos EUA”.


O seu projeto é custoso e demorado. Não o ponha a perder “cutting corners” (Easter egg de cultura americana – é o slogan-motto de uma lanchonete famosa por aqui!). 


 

Sou Danielle Steffen DeCruz-Sanchez, tradutora profissional desde 2011, membro do Sindicato de Tradutores e Intérpretes no Brasil, o SINTRA, e membro da American Translators Association, a ATA. Mais ainda, sou membro do conselho da Language Technology Division, onde discutimos e trabalhamos sobre o impacto que as tecnologias (novas e antigas) têm na tradução como área e como profissão.

Também sou o tradutor mais recomendado no Proz para o par português => inglês – o Proz é o maior e mais antigo portal de tradutores no mundo - veja meu perfil aqui e minhas recomendações aqui. Você também pode conferir meu perfil no LinkedIn e meu site, onde este blog está hospedado.


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